quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O baianês e a tradução

Postado por Aline Brito às 10:42
Pelo que fiquei sabendo, tenho muitos leitores Brasil a fora. Chique eu; chique toda. E sei que o povo de fora adora o jeito baiano de falar, o velho e bom baianês. Recebi uma lista de expressões que usamos muito aqui na Bahia que, mesmo quem é daqui, dá risada de ver, porque quem fala isso, tá tão acostumado que nem percebe a viagem semântica que se sucede no meio da conversa. Quem já leu, leia de novo pra relembrar. Eu acho massa, gosto de gíria, como já mencionei em outra postagem, e gosto do jeito baiano de falar: é criativo, é maneiro, é da paz. Aqui na Bahia palavrão não é palavrão, é um "oi", e rapaz não é moço, é qualquer pessoa; até Ivete Sangalo fala com a mãe dela "Mainha, rapaz, a rua tava lotada!" E por aí vai.
Podem se deliciar...

BAIANÊS
TRADUÇÃO
Colé, meu bródi!
Olá, amigo.
Colé, miséra!
Olá, amigo.
Colé, meu peixe!
Olá, amigo.
Colé, men!
Olá, amigo.
Diga aê, disgraça!
Olá, amigo.
Digái, negão!
Olá, amigo. (independente da cor do amigo)
E aí, viado!
Olá, amigo. (independente da opção sexual do amigo)
E aê, meu rei?
Olá amigo.
Ô, véi!
Olá amigo.
Diga, mô pai!
Oi para você também, amigo!
Êa!
Olá, amigo.
Colé de mêrmo?
Como vai você?
É niuma, misere.
Sem problemas, amigo.
Relaxe mô fiu.
Sem problemas, amigo.
Cê tá ligado qui cê é minha corrente, né vei?
Você sabe que é meu bom amigo, não é?
Bó pu regui, negão?
Vamos para a festa, amigo?
Aí cê me quebra, né bacana.
Aí você me prejudica, não é meu amigo?
Aooonde!
Não mesmo!
Vô quexá aquela pirigueti.
Vou paquerar aquela garota.
Vô cumê água.
Vou beber (álcool).
Colé de mermo?
O que é que você quer mesmo? (Caso notável de compactação!)
Eu tô ligado que cê tá ligado na de colé de merma.
Estou ciente do seu conhecimento a respeito do assunto.
O brother tirou uma onda da porra.
O cara se achou.
Tá me tirando de otário é?
Está me fazendo de bobo?
Tá me comediando é?
Está me fazendo de bobo?
Se plante!
Fique na sua.
Se bote aí, vá!
Chamada ao combate físico.
Eu me saí logo.
Eu evitei a situação.
Shhh... Ai, mainhaaa.
Até hoje não se sabe a tradução. Sabe-se apenas que nas músicas de pagode, o vocalista está excitado com sua respectiva amante.
Ôxe!
Todo baiano usa essa expressão para tudo, mas um forasteiro nunca acerta quando usa.
Lá ele! ou Lá nele!
Eu não, sai fora, ou qualquer outra situação da qual a pessoa queira se livrar ou passar para outro.
Lasquei em banda!
Meteu sem dó nem pena.
Biriba nela mô pai.
Manda ver! (no sentido sexual da coisa)
Ó paí ó!
Olhe para aí, olhe!
Essa expressão foi utilizada pela primeira vez pelo capitão português Manoel da Padaria à frente da Nau Bolseta, que por infortúnio (leia-se burrice) perdeu-se da frota portuguesa no caminho para as Índias e veio parar na Bahia; desde então foi resgatada pelo povo baiano, assíduo leitor de Camões, já que se trata de um texto apócrifo dos Lusíadas, que nem os portugueses sabiam (nenhum jamais concluiu a leitura do clássico). É muito usada por aqui, tanto que virou filme, peça teatral, música, marca de refrigerante, água de coco, barzinho, cerveja, igreja....
Num tô comeno reggae!
Não estar acreditando ou dando muita importância.
Num tô comeno reggae de (fulano)!
Não estar com medo de provocação/ameaça de (fulano)
Tome na seqüência misere.
Tomar o troco de algo ruim que você fez.
Eu quero prova e R$ 1,00 de Big-Big!
Não acreditar. O Big-Big é um chiclete muito valorizado por pessoas de todas as classes.
Sai do chão!
Frase típica e predileta das bandas de axé. O intuito da mesma é de que indivíduo se agite e curta o som tocado em questão.
Rumálaporra!
Agir violentamente contra alguém ou algo.
Rumáladisgraça!
Agir violentamente contra alguém ou algo.
Picá a porra!
Agir violentamente contra alguém ou algo.
Ei, ó o auê aí ô!
Tida como única frase universal a utilizar apenas vogais e ter sentido completo, significa parem de baderna.
Bó batê o baba?
Chamar os amigos para uma partida de futebol.
Bó pu reggae?
Chamar os amigos para a balada.
Salvador é também conhecida por ser uma cidade cujo dialeto deu um lar aos mais diversos impropérios do cancioneiro popular local.
Possivelmente você um dia já foi convidado a visitar a Casa da Porra, a Casa do Caralho, a Casa da Desgraça!
Lá também existe a Casa de Noca que ninguém sabe onde fica, mas sabe-se que lá sempre o couro come.
É claro que existem outras e outras. Quem souber mais, pode comentar, ajude-nos a enriquecer ainda mais esse vocabulário ímpar.

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